A costura como ação performática,
subtítulo que esclarece a base para esta performance, o ato de costurar como premissa para a ação coletiva.
A SAIA DO MUNDO GIRA aconteceu no espaço do Atelier da UAP em Cotia, São Paulo, como parte da Residência Artística realizada junto ao Coletivo de artistas da Usina da Alegria Planetária em Janeiro de 2013. Na performance 3 máquinas de costura funcionaram simultaneamente e criaram o movimento da saia que era costurada.
A figura da “costureira performática” já acompanha o imaginário das performances que crio desde 2010 e foi ponto central da Performance “Der Nähkasten”, caixa de costuras, inspirada em Walter Benjamin no livro “Infancia em Berlim em 1900” onde uma costureira executa a produção de uma boia salva-vidas desde o corte, a costura até o acabamento. Na foto Odile Hautemulle no cenário da performance “Der Nähkasten” realizada em 2010.
Também na Performance “Flagge” a costureira de 1900 costura a bandeira que o dançarino empunha e sai pra a cidade, numa ação simultanea entre a costura e da dança.
Performance, Carlos Frevo e Arianne Vitale Cardoso in Flagge 2012
Mas não é apenas no imaginário, e sim na ação real de costurar que reside para mim a performance.
Cada fase da costura insita em meu corpo uma reação.
Começa com a preparação suave do tecido e o corte da tesoura, com seu som acido e sua ação demarcadora e sem volta.
os dedos ágeis que preparam adereços e as infinitas possibilidades de drapeados e babados para se criar volumes.
Ate quando o homem e a maquina se juntam para transformar e unir.
Costurar para mim é um ato performático, me sinto como se estivesse dirigindo um carro em alta velocidade por uma estrada estreita e curva, me sinto livre e tensa ao mesmo tempo. Um trabalho tão minucioso! mas que em minhas mãos se modela em movimento. Nenhuma linha estritamente reta, que me perdoem as costureiras perfeccionistas, mas foi assim que me apropriei desta arte que aprendi fazendo,
descosturando e recosturando.
E foi neste estado de excitação que aconteceu a performance ”A saia do mundo gira“, como parte da residência Artística na UAP. Os integrantes do coletivo e convidados puderam sentir e viver o processo da costura junto comigo. 3 máquinas de costura dispostas em círculo costurando ao mesmo tempo a barra da saia que ganhava a cada instante mais elementos e drapeados.
Ao centro da saia, suspensa por uma estrutura, cada pessoa podia colocar um adereço, exercitando a sensibilidade com o uso das mãos e do corpo, pois para estar lá era preciso passar por debaixo do tecido. Os outros ajudavam a saia a rodar e buscavam novos adereços, os coletados por mim nos mercados de pulgas de Berlim que chamo de “fragmentos do velho mundo” ou a infinidade de materiais no acervo do galpão da Usina UAP, que trabalham com reinserção de materiais e upcycling.
Propus que houvesse um revezamento para que todos pudessem atuar nas diferentes ações.
Arianne Vitale Cardoso, artistas do coletivo UAP e convidados durante a performance
A generosidade de fazer a saia rodar, a busca de adereços ou imagens, a presença de estar no centro da saia e fixar com as mãos os pequenos adereços e a potência de sentar na máquina e fazer a saia girar em ação.
Uma ação coletiva muito sensível, onde todos juntos, como contadores de histórias, sobrepusemos camadas texturas e experiências. E a saia continuou girando assim como o mundo.
Kabila Aruanda dança com a saia ao final da performance
Residencia Artística na UAP, Usina da Alegria Planetária, em Cotia, São Paulo de 14 a 20 de Janeiro de 2013.
Participação, fotos e videos – Usina da Alegria Planetária (+website e integrantes), Ligia Nobre, Cristian Duurvoort, Renato Bolelli Rebouças e Arianne Vitale Cardoso
Tags: Dance, Performance, Upcycling