
REFLEXÕES SOBRE AS DUAS SEMANAS QUE ACOMPANHEI A OCUPAÇÂO DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS MASÉ – ESCOLA ESTADUAL MARIA JOSÉ
Por Arianne Vitale Cardoso // PROJETO ACÚMULO
Como agir como artista nesse mundo hoje?
Foi com esse questionamento que comecei a residência/ocupação performática do espaço Maquinaria, no coração do Bixiga (treze 240).

Intitulado PROJETO ACÚMULO, durante um mês, imaginei buscar pelas ruas do bairro material para criação de uma instalação artística e performativa. Mas neste mar de lama real em que estamos submersos, não pude começar passivamente. Está latente e dentro de mim explode a pólvora da reação. CHEGA DE LAMA! (escrito em 16 de novembro)
E essa pólvora se transformou num grito: OCUPAR E RESISTIR! Embrenhada nessa pulsante realidade, entre os jovens em luta. Tudo fez sentido!
A revolta aos moldes antigos já não pode existir e entre os estudantes ninguém está movido pelo ódio, como é comum nas lutas (e nas guerras). O clima dentro da escola é de harmonia! harmonia? mesmo numa constante tensão, onde a polícia militar dias antes invadiu com gaz de pimenta o páteo interno da escola, eles conseguiram criar, realmente, um novo modo de operar com a realidade. A organização complexa é entendida e vivida, sem amarras. Unidos, cada um com a sua rede, são indestrutíveis e sensíveis. Nenhuma estrutura, só o acontecimento! Estou aprendendo junto nessa dinâmica baseada em outros moldes e fluxos que antes não entenderíamos.
O encontro com o professor Marcos Bulhoes foi o estopim da urgência de criar uma imagem, fazer um workshop, falar de intervenção urbana com esses estudantes que tiveram a potência de fechar a via expressa da radial leste e outras grandes vias latentes da cidade, as 18 horas e isso é uma intervenção urbana muito potente e isso aconteceu, eu estava lá com eles.
O acontecimento! Unir alunos em ocupações em mais de 200 escolas em todo estado de São Paulo é também uma intervenção, nessa política de ação real!
Dar ao estudante chaves de entendimento da dimensão transformadora da arte, instigando a performatividade para potencializar a luta dos estudantes, apartidária e temática, com reivindicações justas e merecem o apoio da sociedade. Sua articulação é extraordinária e são também potentes as possíveis imagens performáticas e de intervenções urbanas criadas e realizadas por esses jovens. Essas ações serão tema de uma pesquisa realizada por Arianne para ingressar no Doutorado.
E foi nessa escala do acontecimento dinâmico que realizamos juntos a performance e intervenção na Avenida Paulista no dia 6 um domingo e que repercutiu como uma imagem de peso e expressou o sentimento do momento: Jovens silenciados pelas regras e pelas imposições, mumificados pelas faixas de interdição. E aguentaram firme, esses guerreiros! Estáticos com livros enfiados dentro da boca, como o são na realidade, goela a baixo ou entulhados nos corredores em pilhas intactas. Um amigo meu professor da rede estadual me comentou: Foi o melhor uso que eu já vi para essas apostilas. Parabéns!.
A sobreposição desses elementos foi um acontecimento catártico! Alunos em luta para que as escolas não sejam fechadas por um plano maligno de privatização realizado pelo governador e seu partido que está no poder desde antes desses jovens terem nascido!
Não só essa, mas muitas intervenções estão sendo criadas e recriadas diariamente por essa juventude que entende muito bem de imagem e sabem o poder da manipulação da informação, que vivem em rede dinâmica, atuando, mesmo que numa escala pessoal, na interferência diária da realidade, no mundo virtual, com selfs e depoimentos.
Todos esses elementos sobrepostos foi o que deu a força da imagem da performance urbana Interditados. Uma imagem que ainda vai reverberar! Empoderamento para esses jovens que são um presente transformador! e que vão sair da ocupação aprendendo e ensinando o que é ser cidadão no século 21, guerreando contra a imposição para garantir seu espaço, manipulando as imagens e criando movimentos orgânicos de ação, não mais os impostos pelo ”ser normal na sociedade”! Pensando e agindo em intervenções diárias numa escala de arte e vida em resistência, lutando pelo que entendemos que é certo, para cada individuo dentro do coletivo, integrados! NÃO TEM ARREGO!
Agradeço a abertura dos alunos da ocupação, e foi um prazer transformador agir junto para fortificar a mobilização! Tamo junto e digo: Sou outra hoje!
Com amor Arianne Vitale Cardoso – Projeto Acumulo 09/12/2015
facebook – INTERDITADOS: OCUPAR E RESISTIR
facebook – Ocupação Maria José